terça-feira, janeiro 03, 2012

Santa Clara: História e Identidade para dar e vender



Vai para 432 anos - quase meio milénio antes desta “Troika” e seus cavaleiros (sem esquecer as amazonas) mandar ou recomendar o que quer que seja - que D. Pedro de Castilho, a autoridade de então, determinou a criação de uma terceira freguesia para Ponta Delgada: nada mais, nada menos que Santa Clara. A decisão foi tomada decorria o ano de 1580, e, sobre o assunto, com os habituais detalhes, o incontornável Gaspar Frutuoso deixou escrito para a posteridade: “a terceira freguesia, novamente feita, de Santa Clara, antes de ser acrescentada, tinha sessenta e dois fogos e almas de confissão duzentas e noventa e sete, das quais eram de comunhão duzentas e três.” No ano seguinte, a 22 de Setembro, de visita à paroquial de Santa Clara, exigua ermida que haveria de ser causa e pretexto para “as voltas que Santa Clara deu”, o mesmo D. Pedro de Castilho achou por bem acrescentar a freguesia de Santa Clara para Nascente, até à Rua da Cruz.
Depois de mais de um século e uma série de peripécias, terminada que foi finalmente a construção de uma nova igreja – evocando São José –, em 1714 foi mudada para esta a sede da paróquia e alterada, de Santa Clara para São José, a denominação da 3ª freguesia constituída em Ponta Delgada, já então contando mais de 130 anos.
Sob a protecção do orago original, a instituidora das “damas pobres”, Santa Clara, subsistiu no entanto um singelo curato, à volta do qual não só Santa Clara continuou a enriquecer a sua História como os santaclarenses o forte sentimento identitário que sempre os caracterizou: prova disso é que Santa Clara, mesmo como curato, para os santaclarenses nunca deixou de ser “a sua freguesia”.
A construção do porto de Ponta Delgada e a transformação sócio-cultural que esta empreitada veio trazer ao povoado só contribuiram para a afirmação da identidade dos santaclarenses, uma marca de carácter que saiu imensamente reforçada, na transição do século XIX para o século XX, em consequência do polo industrial que, construído o porto, escolheu Santa Clara para se instalar.
Já bem entrados no século XX, o futebol e os vários “santas claras” que ajudaram a modalidade a desenvolver e a afirmar-se em Ponta Delgada – e nos Açores – demonstram mais uma vez a forte identidade dos santaclarenses. Como o demonstra também, já em meados do século XX, um interessante texto de Lopes de Araújo (pai) com o sugestivo título: “Santa Clara – a aldeia dentro da cidade”.
Foi esta singularidade dos santaclarenses que o “Padre Fernando” soube agregar e mobilizar na tentativa de restaurar o estatuto de freguesia que Santa Clara já tivera e perdera. Numa primeira fase não foi possível ir além do que promover o curato a paróquia – eram “os temos de Salazar” -, mas a seriedade, coragem, determinação e coerência do Padre Fernando, tal como a forte identidade dos santaclarenses, vingou (que falta fazem os discursos de lideranças sérias e coerentes: comparem o que dizem hoje sobre Santa Clara os mesmos que, à cerca de seis anos, aproveitando boleia “na onda” que outros formaram, diziam e escreviam o que ainda se pode ler sobre a criação da freguesia). Vingou, “e cá está para o que der e vier”!
História Santa Clara tem. Identidade também. Se é uma freguesia rural ou urbana (o que serão: São Roque, Fajã de Baixo, Fajã de Cima e Relva?) logo se verá!
Está provado como os santaclarenses do pouco fazem muito, todos o vêem e podem testemunhar (o que não acontece, por exemplo, quando se constituem Empresas Municipais, que pouco mais fazem do que “desorçamentar” e dar guarida a amigos e apaniguados).
Portanto: Viva Santa Clara. Longa vida para Santa Clara!

A.O. 03/01/2012; “Cá à minha moda" (revisto e acrescentado)